segunda-feira, 29 de julho de 2013

Para além das expectativas

Chegamos ao fim da temporada de Para Poe. Cada apresentação foi única e com suas peculiaridades e potências. Encerramos um ciclo para iniciar um novo o que não quer dizer que a vida deste trabalho se encerra aqui. Não. Araucária e o Teatro da Praça nos esperam pra quem sabe, depois, o mundo. Mas não é disso que este post se trata. Queremos falar aqui de parcerias afinal de contas não se consegue fazer nada sozinho e em Para Poe não foi diferente. São muitas as pessoas as quais somos imensamente gratos. Cada contribuição, cada compartilhamento dessa experiência deixou em nós e em nossos corpos as marcas que resultam no espetáculo apresentado. Alguns êxitos só foram possíveis graças a parceiros que trabalharam em nossa mente tudo aquilo que reverberava em nossos corpos e que precisava ser canalizado e focado para o trabalho. "Um sábio Sensei disse que a circularidade vence qualquer força imaginável, e comecei a entender o poder da aceitação, que é essencial em um processo colaborativo como o de Para Poe.” Foi dessa forma que nosso cara de chapéu, Erick Alessandro, absorveu o desafio de aliar a consciência corporal através de uma arte marcial. Conceitos de expansão energética, aterramento, precisão corporal só fizeram sentido quando percebemos como eles agiam harmonicamente o que não seria possível se não fossem nossos treinos no Aikido Fudoshindojo com nosso querido Sensei Nereu.


Sair da sua zona de conforto e ir além do seus limites foi o que o espetáculo proporcionou a esse núcleo tão diverso. Este projeto é formado por um núcleo de artistas de DNA diferentes onde cada intérprete trouxe para o trabalho seus anseios, vivências e repertório. Para nossa Siouxsie, Clarissa Oliveira, ser a vocalista de uma banda era até então algo impensável.“Eu nunca imaginei que fosse aprender a cantar. Quer dizer, eu sempre cantei no chuveiro, sempre tentei cantar por aí, mas nunca soube cantar. Sempre me achei desafinada. Mas aí o Elias me mostrou que eu podia aprender a cantar. É claro, não vou dizer que canto como um incrível pássaro, mas em 2 meses de aula com o Elias, da Beltécnic, a diferença é inexplicável. Aprender técnicas, saber usar o diafragma, saber respirar... é muito emocionante quando você consegue alcançar sua primeira nota aguda e ela sai limpa. Das várias experiências que já pude ter na vida, a de perceber que eu posso aprender a cantar foi a mais reveladora. E tudo graças a paciência e ao profissionalismo do Elias, que com calma e muita técnica vai ensinando quais são os melhores caminhos, que melhor se adequam a nossa voz. Sério, é algo que eu recomendo para todo mundo, porque vivenciar o prazer de perceber que você pode cantar também não tem preço."


E por fim nosso zumbi Poe, Thiago Inácio, se deparou com algo que muitos próximo a ele o subestimavam, mas a prova “morta-viva” de que você pode o que quiser é o nosso baterista. Com apenas 3 aulas ele já conseguiu dar o pulso base necessário para o inicio do espetáculo. “Ter aula em uma escola conceituada como a Drum Time que é especializada em percussão e bateria desde 1990 te deixa muito tranqüilo e seguro para ir em frente no seu trabalho. Graças ao respaldo do Joel Jr. professor e músico profissional pude ter todas as condições para desempenhar minimamente a execução ao vivo da banda de Para Poe."

sábado, 29 de junho de 2013

PARA POE DISCUTE AS RELAÇÕES HUMANAS E O ISOLAMENTO SOCIAL EM ESPETÁCULO



COMPANHIA TRANSITÓRIA ESTREIA PEÇA CONTEMPLADA PELO PRÊMIO MYRIAM MUNIZ NO TEATRO NOVELAS CURITIBANAS

foto: Marco Novack


Curitiba/PR – O que arte, crise e vazio existencial têm em comum? Esse é o mote do espetáculo Para Poe da Companhia Transitória que estreia no próximo dia 04 de julho no Teatro Novelas Curitibanas. A peça coloca em cena personagens inusitados para uma discussão de questões filosófico-existenciais e se ambienta nos anos 80 para, com humor e ironia, abordar as interferências do universo pop na nossa sociedade. Para Poe é um espetáculo contemplado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2012, obra de criação coletiva dos artistas Clarissa Oliveira, Erick Alessandro, Patrícia Cipriano e Thiago Inácio.
O espetáculo se constrói a partir do processo colaborativo e contou com a direção de atores de Mariana Zanette. A montagem partiu de uma série de referências da cultura pop para abordar o absurdo: da melancolia ultra romântica da literatura de Edgar Allan Poe como ambientação do espetáculo passando pelo gótico da década de 80, as imagens de George A. Romero até o seriado The Walking Dead. Com texto de Clarissa Oliveira e Thiago Inácio a dramaturgia se propõe a colocar em discussão, de forma irônica e ácida, as questões universais humanas: a sensação de vazio, apatia causada pelo distanciamento de corpos proporcionado pela era da globalização.
 
foto: Marco Novack


“A sobreposição de tantas referências não acontece por acaso. A idéia é criar uma síntese deste mundo de pastiches e clichês em que estamos mergulhados, se utilizando de referências de nossa época. É a linha tênue entre o risível e o melancólico, que é justamente nossa crise constante, comenta Clarissa Oliveira, intérprete-criadora e uma das dramaturgas do espetáculo. Para Thiago Inácio o texto e criação de todos na equipe caminharam juntos e foram essenciais para o resultado. “O processo revelou o humor e ironia como potentes ferramentas, capazes inclusive de questionar a condição do artista e da própria arte. O público se diverte ao acompanhar as situações ridículas em que as personagens se colocam,” complementa. 
Para Poe entra para o repertório da Transitória que desenvolve trabalhos de pesquisa teatral desde 2007. O espetáculo foi contemplado com um dos mais importantes fomentos de teatro do país: o Prêmio Myrian Muniz de Teatro concedido pelo Ministério da Cultura através da Funarte (Fundação Nacional das Artes). O projeto, além de submeter o trabalho a diferentes públicos, propõe o contato com outras regiões. Além de Curitiba o espetáculo prevê apresentações também no Teatro da Praça em Araucária como forma de descentralizar o circuito das produções teatrais da grande capital.

foto: Marco Novack

A peça é uma comédia irônica em que Siouxsie se alimenta de um amor platônico idealizado pelo seu zumbi, que na verdade não passa de uma projeção de si mesma, dos seus traumas e crises, enquanto Edgar, o cérebro gigante, funciona como a voz da sua consciência e o Cara de Chapéu transita pela cena como criação de um universo misterioso, o anti-herói que volta em flash backs costurando o espetáculo com cenas construídas através das lembranças de Siouxie.

foto: Marco Novack


Sobre a Transitória
A Transitória é um núcleo de artistas com sede em Curitiba, no Paraná. Criada em 2007, a companhia desenvolve uma pesquisa artística continuada e tem como princípio de trabalho a proposição de parcerias com profissionais da área para a troca de experiências, ideias, conceitos e práticas relacionadas ao fazer teatral. O principal foco de pesquisa do grupo é o estudo, a exploração e a ocupação do espaço cênico, levando em conta as relações entre espaço/ator/espectador. O grupo trabalha a partir de processos colaborativos, nos quais articula uma horizontalidade das funções dos profissionais envolvidos sem, com isso, eliminar as especificidades da área de cada um. A pesquisa estende-se também para a relação com o espaço (mundo) interno e externo; alerta máximo para a compreensão da ação; valorização do corpo como ferramenta tão importante quanto o espaço na aventura do intérprete; a importância do não saber para criar, do caos para organizar e a importância da atitude permanente de jogo são alguns temas perseguidos por todos num clima de mútua provocação.


 


Para Poe
Companhia Transitória
Texto: Clarissa Oliveira e Thiago Inácio
Uma peça de: Clarissa Oliveira, Erick Alessandro, Patrícia Cipriano e Thiago Inácio.
Data: 04 de julho a 04 de agosto. (5ª feira a Domingo)
Horário: 20h
Local: Teatro Novelas Curitibanas (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco)
Ingresso: Gratuito
Idade recomendada: 18 anos